Títulos e sub - títulos do artigo:
Novos contextos de Aprendizagem e Educação Online
- A Educação Online e os novos espaços pedagógicos
- As Comunidades virtuais de aprendizagem e a “turma virtual”
Novos contextos de Aprendizagem e Educação Online
As novas tecnologias da informação e da comunicação tem trazido para a sociedade numerosas alterações, a nível profissional, de diversas actividades e consequentemente, no quotidiano mais trivial das sociedades.
No que diz respeito à Educação, as novas tecnologias têm vindo a criar a necessidade de equacionar não só o que é importante aprender, mas os modos em que se realizam as aprendizagens. A escola tem vindo a integrar estas mudanças, sendo que muito lentamente, pois torna-se inevitável que as formas de aprender e de ensinar sejam repensadas para que se desenvolva uma nova cultura de aprendizagem.
Esta nova cultura de aprendizagem deve responder às necessidades de formação e educação da sociedade actual, permitindo que a educação forneça novas referências sobre o que é fundamental aprender e o modo como se pode aprender.
No entanto, há que ter em atenção que não se trata apenas de utilizar as novas tecnologias e espera que a sua simples utilização prepara melhor e determina a melhoria das aprendizagens dos alunos. É importante realçar, que a tecnologia, por mais avançada que seja, não lhe tem inerente uma pedagogia. Dada a versatilidade das novas tecnologias, podem ter subjacentes diferentes filosofias de aprendizagem, mas cabe aos professores e alunos, reflectirem sobre que tipo de práticas pedagógicas pretendem veicular.
Alguns autores afirmam que a escola assimila as inovações tecnológicas, integrando-as nos sistemas pré-existentes, protegendo-se, assim, das mudanças que não se encontra preparada para realizar. Um destes exemplos é o computador, que muitas vezes é utilizado como um novo e moderno retroprojector, servindo essencialmente o modelo tradicional de transmissão de conhecimentos.
Estas questões levam-nos mais além do que pensar na simples integração das novas tecnologias na escola, pois a questão não reside em saber se as novas tecnologias favorecem ou não a aprendizagem, mas sim, no modo em como devem ser colocadas ao serviço dos projectos educativos, para que a educação seja um processo de desenvolvimento integrado, significativo e coerente, em que a escola seja uma organização que aprende e não apenas uma organização que ensina.
Para que tal aconteça, “é preciso que a instituição escolar se transforme numa comunidade dedicada à construção colectiva de significados, que passe a ser uma organização aprendente, capaz de aprender com os seus próprios erros.” (Melo, 2002, p.73).
É necessário, que a escola tome atenção aos contextos em que vivemos, pois os novos media tornam possíveis e requerem novos contextos de aprendizagem, fazendo com que a escola perca alguma da sua centralidade, deixando de ser vista como o único local onde se aprende.
A escola tem de constituir-se como uma instituição social que promove a formação pessoal, social e cultural das pessoas, enquadrada na nova cultura em que hoje vivemos e de acordo com um projecto de sociedade em que a educação seja encarada “não como um processo de treino e de adaptação, mas como um processo de compreender e intervir no mundo” (Canário, 2002, pp. 150-151).
-A Educação Online e os novos espaços pedagógicos
Não tem sido fácil a integração das novas tecnologias na Escola e na educação mas é um facto que a utilização crescente da Web está a romper com a tradicional utilização educacional das tecnologias. O potencial de interacção e comunicação da Web permite, actualmente, à construção e desenvolvimento de novos espaços pedagógicos, de ambientes de aprendizagem com características próprias, surgindo assim novas dinâmicas sociais e um novo conceito de sala de aula (o professor dá a aula mas enriquece esse processo com o uso de tecnologias interactivas, possibilitando que os alunos estejam presentes em muitos tempos e espaços diferentes) e de Escola.
No âmbito do ensino superior e da formação contínua, a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação como tecnologias cognitivas e sociais é um processo de inovação pedagógica, utilizando as capacidades de comunicação e interacção destas ferramentas como prolongamento do tempo e do espaço da sala de aula presencial, o que possibilita a flexibilização de momentos presenciais com momentos de aprendizagem virtual.
Assim, a utilização da Web permite novas e relevantes capacidades formativas, assumindo um espaço de interacção e comunicação que estimula a partilha de experiências, o pensamento crítico, a criatividade, o trabalho colaborativo, a pesquisa, a realização de projectos, a sua apresentação e avaliação. O ciberespaço é um local propiciador de dinâmica social, e esta em coexistência com a dimensão cognitiva (as duas dimensões da Web: cognitiva e social) transformam a Web num “ecossistema propício à aprendizagem, propício ao desenvolvimento de novas formas de relação com o conhecimento e a novas formas de relação com os outros” (Quintas-Mendes et al., 2008, p. 104), possibilita assim a interacção com toda a rede de informação, originando um novo modelo de comunicação e um recurso educativo promissor.
Como refere Figueiredo (2001), o desafio dos novos media é o de construir comunidades onde a aprendizagem individual e colectiva se constrói. Deste modo, os media surgem como um novo espaço pedagógico, onde se constroem aprendizagens e se produzem conhecimentos, que podem responder às expectativas e necessidades de indivíduos e de grupos. E é nestes novos espaços pedagógicos que se efectiva a Educação Online e o e-learning. Tendo por base a definição de Feyten & Nutta (1999), a Educação Online dá-se quando a comunicação no ensino é mediada por um computador, ou seja, à distância, que pode ser síncrono (ocorre em tempo real) e/ou assíncrono (na situação de ensino-aprendizagem, o professor e aluno não se encontram em simultâneo). Morgado, em 2001, também afirma que “uma característica essencial do ensino online é a interacção que possibilita um tipo de aprendizagem que se inscreve nos paradigmas construtivistas, e que se diferencia de outras formas de ensino a distância” (p. 127). De facto, a educação a distância revolucionou e continua a revolucionar esta modalidade de ensino, assistindo-se a uma transformação de paradigma – terceira geração do ensino a distância – onde a criação de comunidades no ciberespaço permite que haja salas de aula virtuais e o espaço, o tempo e as relações ganham outros contornos pois a interacção diversifica-se e a aprendizagem atinge uma dimensão social. Assim, a utilização da Internet e a formação de comunidades virtuais de aprendizagem colaborativa permitem que o ensino a distância ganhe uma “sala de aula” onde existe uma interacção efectiva entre alunos e entre alunos e professores, o que aproxima as pessoas. A Educação online está a mudar o ensino a distância e também o ensino presencial e, assim, a realidade actual implica que ensinar e aprender se faça quer em sala de aula presencial quer em sala de aula virtual, não se circunscrevendo a um espaço e tempo determinados. Segundo Moran (2003) está em direcção uma aproximação entre a educação presencial (cada vez mais semi-presencial) e a educação a distância, possibilitando diversos modos de aprendizagem onde se pode associar o melhor do presencial com as facilidades e potencialidades do virtual.
-As Comunidades virtuais de aprendizagem e a “turma virtual”
A comunidade de aprendizagem é definida por Dias (2001) como “um sistema colaborativo e distribuído, que se forma pela interacção e que se efectua através da comunicação, orientada por objectivos de aprendizagem partilhados entre os seus membros.” (p. 27). Esta comunidade abrange uma cultura de participação colectiva entre alunos e professor que têm como finalidade objectivos comuns e pode desenvolver-se na sala de aula ou na Web. A característica específica desta comunidade é que existe uma cultura de partilha onde os saberes e competências individuais são colocados ao uso do percurso de aprendizagem do colectivo da comunidade, tratando-se, por isso, de contextos de aprendizagem inseridos nas perspectivas sócio - construtivistas, onde a aprendizagem é centralizada no aluno e a interacção entre pares e o contexto envolvente é relevante. Para Dias (2001) a Web assume-se como um contexto propício ao desenvolvimento de comunidades de aprendizagem, ambientes virtuais de aprendizagem que possuem um conjunto de especificidades, descritas de seguida:
-Comunicação em rede, sem limitações de tempo e distância
-Dinâmica de interacções entre o grupo
- Processos de comunicação colaborativa
- Acesso fácil, flexível e diversificado à informação
- Interacção com os conteúdos
- Comunicação síncrona e/ou assíncrona
- Utilização da escrita como meio principal de comunicação e interacção
- Vínculo social construído através da relação com o conhecimento
É ainda importante referir que a comunicação assíncrona permite um maior grau de reflexividade pois como as intervenções não ocorrem em tempo real, os alunos têm a possibilidade de reflectir e fundamentar as suas intervenções, sendo mais cuidadas, o que favorece a aprendizagem. Assim, a assincronia é uma mais-valia nos ambientes online, sendo que “a sincronia constitui uma dificuldade da educação presencial que o ensino online permite ultrapassar” (Quintas-Mendes et al., 2008, p. 107). Numa comunidade virtual de aprendizagem, os alunos ao não participarem ou participarem pouco nas actividades significa que não se tornam visíveis, isto é, não se integram na comunidade de aprendizagem em questão. O aluno virtual adopta uma identidade e adquire o sentimento de pertença a um grupo ao participar nos fóruns, chats, etc.
A interacção com os media do conhecimento provoca uma interacção profunda com a representação do conhecimento, o que origina diferentes dinâmicas de relação entre as pessoas e entre estas e o conhecimento. Neste âmbito, os media interactivos são um ambiente benéfico ao desenvolvimento de processos de cognição, a rede de ligações hipertextuais da informação possibilita que o aluno adquira flexibilidade cognitiva, que estabeleça novas relações e que expanda e complexifique a sua rede semântica.
Deste modo, a criação de comunidades de aprendizagem têm um enorme potencial pedagógico do ensino online pois estas agregam e interligam a dimensão cognitiva e a dimensão social, que são essenciais no desenvolvimento e construção de aprendizagem colaborativa. Actualmente, tem-se assistido ao surgimento de alguns modelos que pretendem orientar a concepção, o desenvolvimento e a implementação da educação online (Mason, 1998; Duart & Sangrà, 2000; Garrison, 2000; Anderson & Elloumi, 2004; Pereira et al., 2003; 2006; 2007) devido à exigência que esta e que as comunidades virtuais de aprendizagem fazem para que se desenvolva uma pedagogia específica. E assiste-se também a uma enorme vitalidade do pensamento pedagógico no contexto da educação online, na busca do imenso capital de saber construído e de integrar as ferramentas e possibilidades que as novas tecnologias em rede facultam no progresso e alcance da aprendizagem. Assim, a tecnologia é um meio e não um princípio definidor da aprendizagem.
Referência consultada: Amante, L., Mendes, A. Q., Morgado, L., Pereira, A. (2008). Novos contextos de aprendizagem e educação online. Revista Portuguesa de Pedagogia, 42, 3 (pp. 99-119).